sexta-feira, 23 de setembro de 2016




      A pessoa com deficiência na minha história de vida

                A questão das dificuldades pelas quais passam a pessoa com deficiência e seus familiares está presente desde muito cedo em minha vida, desde quando eu tinha 5 anos e meu irmão nasceu.
                Ele não tinha um diagnóstico específico. Demorou a falar e era um pouco lento. Na escola, também não se encaixava. Teve professores impacientes e rudes. Minha mãe buscava ajuda de profissionais da área da saúde, mas não tinha acesso a serviços privados, e os públicos ofereciam atendimento precário. Ficou bastante atrasado na escola e aprendeu a ler com muito custo, com a ajuda de uma professora muito empenhada e afetuosa, e acompanhamento psicológico em uma faculdade particular.
                Em sua busca dificílima, minha mãe se deparou com profissionais despreparados e falta de estrutura e embasamento para lidar com a criança. O diagnóstico, obtido com muito custo, já a certa altura, foi de deficiência intelectual leve.
Ele frequentou a escola especial por alguns anos, até a adolescência. A escola era aberta ao diálogo e oferecia um bom atendimento, apesar de suas limitações, como a falta de habilidade dos professores para lidar com os estudantes de acordo com sua idade e interesses. Nessa escola, meu irmão teve sua primeira namoradinha e até hoje conserva amigos que lá fez. Mais tarde, frequentou a E.J.A., concluindo assim o ensino médio.
Desde a adolescência, tem demonstrado interesse e habilidade relacionados a diversas atividades, como eletrônica, iluminação, filmagem etc. Fez alguns cursos livres nessas áreas e outras, com o objetivo de se profissionalizar. Entretanto, os trabalhos que teve foram em linha de produção ou limpeza, e ainda assim não conseguiu se manter neles. Hoje tem 33 anos e cerca de apenas 3 anos de trabalho com carteira assinada. Atualmente está desempregado.
De forma geral, o empregador, para preencher as vagas das cotas para pessoas com deficiência, certamente dá preferência a alguém com deficiência física. Isso me levou a concluir, há alguns anos, a exclusão é marca permanente da vida da pessoa com deficiência e que a pessoa com deficiência intelectual é a excluída dos excluídos.
Um dia fui ao cinema com minha mãe ver o filme italiano "As chaves de casa" (que, aliás, recomendo muito), sobre um menino autista e a vivência das famílias. Embora meu irmão não seja autista, reconheci na tela diversos dilemas e dificuldades semelhantes às que minha mãe passou por ter um filho em uma condição para a qual a sociedade não está minimamente preparada, o que causa muito sofrimento. É preciso falar sobre esse sofrimento e sobre suas causas. É preciso falar sobre inclusão para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

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